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A HISTÓRIA DO RPG - PARTE I

  • Glailson Santos
  • 30 de abr. de 2017
  • 5 min de leitura

AS ORIGENS DO RPG

Às vésperas de comemorar 20 anos rolando poliedros exóticos e reunindo os amigos para longas tardes de muita diversão em torno de uma mesa coberta de livros, lápis, canetas e papéis, decidi contribuir para a comunidade de fãs do bom e velho “RPG de mesa” socializando um pouco do XP que consegui acumular sobre as origens de nosso hobby favorito ao longo de algumas campanhas e sessões, nem sempre bem-sucedidas. Um anseio ancestral me impele a compartilhar uma história do qual todos nós, narradores e jogadores, fazemos parte.

De uma forma talvez presunçosa alega-se que as origens do que chegou até nós como “RPG de mesa” remonte à Commediadell'arte, uma forma de manifestação artística que se disseminou pela Europa ainda no século XVI em contraponto ao Teatro Erudito, onde artistas itinerantes apresentavam espetáculos teatrais nas ruas, muitas vezes sem roteiro algum e sempre em base ao improviso, onde a interpretação e a fantasia estavam a serviço da reflexão sobre a realidade, buscando satirizar escândalos locais, eventos atuais, ou manias regionais, temperando-as com piadas e bordões, voltados para o público que não tinha condições de frequentar os teatros, ainda mais elitistas naquela época do que costumam ser hoje.

Alguém ainda mais rigoroso (ou pretensioso) poderia dizer o RPG remonta à ânsia ancestral de partilhar histórias em torno de uma fogueira, sob o céu estrelado, permitindo que a audiência, de uma forma ou de outra, também ajude a contá-las.

O que a história oficial registra, entretanto, é que no, não tão distante, ano de 1969 o jovem norte-americano, militar da reserva, formado em física e aspirante à designer de jogos, Dave Wesely, em um encontro de fãs de wargames (jogos de guerra e estratégia) na universidade de Minesota, "narrou" uma sessão de sua mais nova criação, um wargame caseiro que chamou de Braunstein, onde cada jogador representava um único oficial ou revolucionário em uma cidade fictícia. Braunstein marcou a primeira experiência conhecida em que a interpretação de personagens foi usada em um jogo de estratégia que era muito semelhante a uma sessão do que conhecemos hoje como “liveaction”.

Entre os participantes dessa sessão pioneira esteve Dave Arneson que em 1971, certamente influenciado pela experiência, usaria a ideia de incorporar a interpretação de personagens individuais, no lugar de exércitos, ao seu próprio jogo de estratégia que chamou de Blackmoor, onde já estavam presentes muitos dos elementos que costumamos relacionar aos RPGs de mesa, como pontos de vida, classe de armadura, pontos de experiência e dungeons, além de, como muitos jogos de estratégia, incorporar miniaturas em um grid para representar os combates.

Foi também em 1971 que Gary Gygax, já veterano no meio estadunidense de wargames e aficionado por ficção científica e fantasia capa e espada, após perder o emprego em uma Companhia de seguros e dedicar-se a alguns trabalhos como desenvolvedor e editor de jogos, publica Chainmail, um jogo de guerra com miniaturas que simulava combates táticos na Era Medieval, originalmente pensado como um cenário histórico, mas que logo incorporou também elementos de fantasia.

Foi da parceria entre Dave Arneson e Gary Gygax que surgiria, em 1974, o primeiro jogo de RPG a ser publicado e disponibilizado comercialmente, Dugeons & Dragons, também conhecido como D&D, que uniria ideias presentes anteriormente em Blackmoor e Chainmail.

A responsável por essa iniciativa pioneira foi a lendária TSR, empresa fundada um ano antes por Gygax em parceria com seu amigo Don Kaye, já com o objetivo de lançar D&D como um produto para um nicho muito especifico de consumidores. Gygax espera vender não mais do que mil exemplares e precisou incorporar a sua parceria um investidor de nome Brian Blema, apenas para ter recursos suficientes para seu primeiro lançamento. Nenhum deles àquela altura poderia imaginar o sucesso a influência que teria seu despretensioso trabalho.

O inicio foi promissor, as primeiras mil caixas de D&D esgotaram em menos de um ano e o jogo logo se popularizou nas convenções de fãs de jogos de guerra e estratégia, até ser também distribuído nas lojas estadunidenses de jogos e livros.

A primeira edição Livro do Mestre, publicada em 1979, incluiu uma lista de leitura recomendada de vinte e cinco autores. Referências literárias e mitológicas que ajudaram a atrair novos fãs e a moldar toda uma geração inspirada por obras de autores como J. R.R. Tolkien, Jack Vance, Poul Anderson, Robert E. Howard, Edgar Rice Burroughs e H. P. Lovecraft.

Em 1980 D&D já era uma grande febre e em 1982 a estreia do filme Labirintos e Monstros (Mazes and Monsters, no original), estreado pelo jovem e pouco conhecido Tom Hanks, que contava a história sobre RPG, foi o impulso derradeiro à popularização de D&D que, em 1983, estrearia seu próprio desenho animado, Caverna do Dragão (Dugeons e Dragons, no original), que marcou a infância de crianças do mundo inteiro ao longo dos anos 80. Foi ainda durante aquela década que os jogos de RPG influenciariam outras mídias, dando origem a um gênero próprio de jogos de computador e videogames, muito popular até os dias atuais.

O jogo confirmaria seu sucesso com o lançamento do AD&D (Advanced Dungeons & Dragons), em 1987, e com o surgimento de gêneros alternativos como: Super-Heróis, com o sistema Champions, criando um gênero e trazendo uma forma de pontuação para os personagens, além dos atributos, das vantagens e desvantagens, o que tornava o jogo mais tridimensional e interessante; além de cenários de Ficção Científica, baseados em uma literatura já existente ou totalmente inovadores, como Cyberpunk, que nos anos 80 discutia o impacto da realidade virtual e a hegemonia de grandes corporações privadas em um futuro próximo e decadente.

No Brasil a primeira e segunda edições de D&D jamais chegaram a ser publicadas, mas alguns poucos exemplares imigraram dos Estados Unidos para alimentar sectos seletos de entusiastas ainda nos anos 80, grupos que ficariam conhecidos como “Geração Xerox”. Jogadores brasileiros só iriam poder usufruir de uma edição do jogo em português em 1995, quando a primeira Edição brasileira de AD&D foi lançada pela Editora Abril quase simultaneamente com a 2ª Edição estadunidense.

Lá fora, ainda em 1986 a empresa Steve Jackson Games publicava o jogo GURPS (acrônimo na língua inglesa que poderia ser traduzido como Sistema Genérico e Universal de Interpretação de Papéis), uma grande inovação que permitia aos narradores usar um único sistema de regras para narrar aventuras nos mais variados gêneros e cenários com total compatibilidade. No Brasil, GURPS só chegaria oficialmente em 1991, pelas mãos da Devir. Atualmente estamos na 4ª edição brasileira de GURPS, publicada em Julho de 2015, durante o XIX Encontro Internacional de RPG, realizado no Campo de Marte, em São Paulo.

Era o inicio dos anos 90, aquela que seria década de maior disseminação do RPG de mesa no país. Contudo, titulo de primeiro RPG brasileiro coube mesmo a Tagmar, publicado originalmente naquele mesmo ano de 1991 pela pioneira GSA, um jogo concebido e produzido por uma equipe 100% nacional. Mas o boom de disseminação do RPG de mesa nos anos noventa será o tema de um segundo e último artigo, complementar a este. Até lá!

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